quarta-feira, 24 de novembro de 2010

"you know that I could use somebody"

No rebuliço que é o dia-a-dia, tu iluminas-me. Iiluminas-me e acordas-me. Sempre que estou no meio de tantas formas e caras indistintas, no metro, no autocarro ou, simplesmente, quando vagueio pelas ruas de Lisboa - ou da minha Baixa (sim, minha. porque ela é de todos e eu sou de ninguém) - no meio de tanta confusão, movimento, sons, melodias, barulho, jornais a voar, vento, chuva, sol, pessoas - sobretudo pessoas! tantas! - é a tua cara que vejo. Sim, a tua. Todos os outros, para mim, não passam de seres sem rosto, anónimos que podiam ser o tal mas que nunca o irão ser por tua causa. Porque só penso em ti. Mas tu nunca pensas - nem em mim nem em nada! - e nunca irás pensar. Não és assim. Mas também não és como eu queria que fosses. E, certamente, não és quem mostras ser. Um dia, gostava que percebesses o que sinto, realmente. Um dia. Não hoje, porque hoje não estás preparado para isso. Porque ontem, num desses quaisquer dias, não estiveste preparado e eu ignorei. E tu ignoraste-me. E nós (mas não há um nós real, pois não?), sim, e nós, ignoramos. Fingimos, talvez tratar-se de uma brincadeira. Disseste, sim, disseste (e quando o disseste mataste-me por dentro de tal forma que eu, que nunca choro, chorei. Muito. E chorar não é agradável. Ficar inchado e a tremer não é agradável. Lágrimas a escorrer pela minha face - não é agradável. Olhos vermelhos - não é agradável. Mas, mesmo assim, chorei como nunca tinha chorado. Chorei como se tivesse perdido qualquer coisa que nem era minha e que não perdi. Nem ganhei. Na realidade o problema é não falarmos. Nem brincarmos como antes. O problema é eu já não conseguir estar ao pé de ti sem sentir alguma irritação ou raiva.) disseste que tudo estava igual. Mas, se há alguma coisa que posso afirmar com certeza, é que nada está igual. Nada. Porque não se envolvem duas pessoas e depois diz-se: 'está tudo igual.' Porque a desculpa do 'bebi demais' não pega. Porque ambos sabemos o que fazíamos e só o fizemos (leia-se fizeste) porque quisemos. Mesmo que não o admitas. Mesmo que fosse só uma vez. Mas quiseste. Naquele dia quiseste. E agora nunca mais poderemos falar disso. Nunca mais poderemos falar sobre nada.

É por isso que te vejo, a ti, todos os dias nos rostos indistintos dos estranhos que passam e que, talvez, são o dobro dos homens que tu és. Pois eles, ao menos, falam.

Há dias, porém, que não é a ti que vejo. É a ele. Sim, ele. Ele que me deixa chorar. Ele que fala comigo. Ele que me escuta e aconselha. Ele que está lá. Simplesmente, está lá.
Às vezes vejo-o a ele. Mais sensível e mais homem que tu. Mais maduro e, contudo, mais inalcançável ainda. (E não o são todos, vocês? Inalcançáveis?)

'You know that I could use somebody', 'someone like you'. - A questão aqui é: quem és tu? Julguei que sabia. Mas já não sei. (se tu, sim, tu, aquele que não fala, me viesses falar hoje ou amanhã, eu saberia que eras tu. Mas se insistes em manter um silêncio indistinto e cruel, então, não sei se não será ele. Só que ele, apesar de tudo, e de ser mais homem, continua a ser só isso mesmo. Um homem. E, tal como tu, pode nunca vir a pensar em mim.)

às vezes a água que me escorre pelo corpo, nu - como um tecido acetinado que desliza pelos meus contorno até ao chão - é a minha única salvação. o meu conforto. o meu porto-seguro. Nem tu, nem ele, nem os outros que me atormentam, nem ninguém. só o mar. a água.

(still, irei sempre sonhar contigo e terei sempre este aperto no coração que me faz sofrer e viver ao mesmo tempo).

1 comentário:

toca-me ao de leve, com gentileza. e, depois, quando me tiveres cativado, poderás então fundir a tua alma à minha.

as palavras são coisas curiosas, há quem diga que dão vida. por isso, escreve. dá-me vida.