sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Acto I - «blame it on the hormones»

Hoje estou cansada como nunca estive. Nem naquele dia em que sucumbi ao néctar dos deuses que é a sesta.
Hoje estou mesmo cansada.
Dói-me tudo.
Estou mal-disposta a nível físico.
E doente a nível emocional.

Penso nestes últimos meses de mudança. Mudou tanto. Mudou tudo. Mas muita coisa permaneceu igual embora diferente. Será aquela tal mudança de 360º em que tudo volta ao mesmo depois de rodar completamente até ao pólo oposto?Não sei.

Só me consigo lembrar é da rua. Do movimento, das pessoas, do cheiro a castanhas assadas sempre presente. Os estrangeiros que passam e admiram a nossa arte, cultura e povo. Coisas que devíamos também nós admirar. Coisas que admiro. Portugal tem muitos defeitos,mas mesmo assim não consigo deixar de gostar do meu país. Podia viver em tantos locais (posso até vir, um dia, a mudar-me para um desses centros do mundo:Londres,Nova Iorque,Paris...)mas não consigo deixar de pensar que pertenço aqui; que não queria ter nascido em nenhum outro lugar que não na minha Lisboa - um bocadinho o que sinto em relação a ti:
Tantos defeitos, tantas virtudes, tantas diferenças,tantas semelhanças comigo. Mas,apesar das desventuras, continuo a ser atraída para ti. Mesmo depois de teres mudado. Mesmo quando és cruel. Mesmo quando és injusto. Mesmo quando me fazes triste. «A minha pátria é sempre minha.»

Estou extenuada, deveras,bastante, assaz. Apetecia-me dar um passeio à beira-mar. Apetecia-me ver o Tejo e as estrelas. Apetecia-me tanta coisa!
Mas sinto-me a desvanecer, desaparecendo lentamente na multidão indistinta e disforme. Um bocadinho como a Chihiro quando se vê perdida num mundo paralelo que não o seu e começa a desaparecer,literalmente. Quase na transparência total perante os outros e quase sem forma, trespassável. Sinto-me "fraca e sem força". Como se todas as forças me abandonassem aos poucos. Como se todo o meu sangue fluísse pelas minhas veias e artérias de tal forma a que escorresse pelos meus braços através de microaberturas na epiderme do meu ser. Como se não dormisse há dias, meses, anos;como se nunca adormecesse mais. Como se adormecesse só naquele 'finalmente' sussurrado e fraco que será a última coisa que direi. «ADEUS»

A culpa é das hormonas. Não sei porquê,mas é. Hoje tem de ser. Eu não era assim. Poucas mulheres são (estão) assim.Nenhum homem será assim,definitivamente. Isto é uma desregulação hormonal.
Chamem-lhe o que quiserem: TPM, Tensão Pós-Menstrual, Menstruação, Ovulação, o que seja! Não importa. Importa é que as variações de humor constantes remetem para oscilações abruptas dos níveis de hormonas em circulação. Ou isso, ou sou bipolar.
Às vezes sinto que sim, que sou. Bipolar. Mas sei que a nível patológico, real, não. A nível psico-emocional, todavia, sou...mais do que queria. Mais do que devia.

Estou um caco, desfragmentado, partido, atirado ao chão como uma folha de vidro de espessura mínima. E ninguém quer saber. E todos pisam. E eu parto-me cada vez mais. Nem eu consigo evitar não me estilhaçar a cada momento.

Um dia, neste palco que é a vida, gostava de ter o papel principal,uma vez que fosse.

1 comentário:

toca-me ao de leve, com gentileza. e, depois, quando me tiveres cativado, poderás então fundir a tua alma à minha.

as palavras são coisas curiosas, há quem diga que dão vida. por isso, escreve. dá-me vida.