quarta-feira, 24 de abril de 2013

A vida é como uma mariscada

Não sabes bem para onde te virar, há imensa coisa para comer boa. Mas depois há aqueles mariscos que só alguns é que gostam. Eventualmente se chegares tarde ou fores altruísta acabas tu por ficar sem nada para comer. Ou então com os restos. No final sais sempre magoado, especialmente se limpares as mãos ao guardanapo com limão - as feridas doem sempre mais depois de estares de barriga cheia. Mas mau mau é estares a comer e aleijares-te quando tentas partir a carapaça de outra pessoa. Se bem que chega a ser quase merecido, não se deve partir ninguém. Nem mesmo que seja para comer.

Sabes, ter carapaça por si só é mau que chegue.

sábado, 20 de abril de 2013

Hidroginástica em bibliotecas sufocantes


Vamos perdendo as pessoas aos bocadinhos.

Por mais que digamos que não. Por mais promessas. Por mais partilha. Vamos. 
Elas pertencem a alguém e nós pertencemos a outro alguém e no fim fica um mar de alguéns que lutam para se manter à tona de água, para respirar, para não sucumbir à maré entrelaçada de relações e ligações, para que a morte, o afogamento, não as atinja. E as palavras vão-se diluindo no sal da água do mar de alguéns, vão-se asfixiando nas laringes que se enchem de água a cada golfada desesperada. Até que os pulmões recebem o mar de braços abertos. Até que sentimos a maior dor quando tentamos compassadamente respirar a conversa do nosso alguém, aquele que é de outro alguém, que por sua vez é de outro alguém. Até sermos engolidos pelas ondas. 

Sim, vamos perdendo as pessoas aos bocadinhos.