quarta-feira, 11 de maio de 2011

quem sente exprime?

consistência firme, cor avermelhada

peso: aumenta gradualmente com a idade, é um pouco mais pesado no homem que na mulher

[engraçado como foi preciso estudar anatomia para me questionar]

sempre pensei que as mulheres tivessem um coração maior: mais capaz de 'sentir', de amar. ou, pelo menos, assim mo transmitiram. mas, as evidências são bastante claras - o coração nos homens é mais pesado.
eu sei, com isto não quer dizer 'maior', 'mais capaz de amar'. quer apenas dizer que a sua massa é superior. mas 'mais pesado' nunca antes me pareceu tanto 'mais sofrido' como agora.
mas, poderá ser? 'mais sofrido'? quem sofre, sente - é premissa assente. por isso, se for realmente 'mais sofrido', terei de concluir que 'sente mais' ou, pelo menos, 'mais intensamente'.
então, porque me é tão difícil ver isso, perceber [percebê-los]?
julgo ser impossível distinguir entre os que não sentem (e, por isso, são as chamadas 'variações anatómicas') e os que sentem mas não conseguem exprimi-lo (ou serão estes as excepções?)

"distingues pelo tempo que te demora a dizer o que sente ou sentiu. eventualmente, quem sente, confessa-o. de um ponto de vista mais prático notas uma alteração no discurso da outra pessoa quando ela (res)sentiu algo. mesmo que não diga o que é. ou que fale da mesma maneira, a forma como as conversas progridem é sempre reveladora."
faz algum sentido. mas, terei eu o tempo necessário para averiguar? pior, saberei fazê-lo?

entendo, contudo, como poderia um sentimento evoluir e 'crescer' - tornando um coração pesado - se assim for; guardar as coisas nos confins do nosso baú vital custa - e muito! - e, isto, pesos à parte, é transversal a homens e mulheres.


surge, no entanto, uma outra ideia.
"nao distingues - são uma só coisa. como é obvio, todos os homens sentem; a diferença entre eles e as mulheres é que poucos sabem (ou têm a coragem) de mostrar o que sentem - vivem demasiado vidrados nas possíveis consequências do que possam sentir. no fundo, no fundo, são bem mais complicados do que as mulheres"

'mais complicados'? então tiram-nos o recorde de 'maior' coração e agora também o de maior complicação?
nada faz sentido. sempre pensei nos homens como simples. se bem que a condição humana seja para a negação disso mesmo (isto, claro, se tal coisa como uma 'condição humana' existir). mas talvez sejamos nós que os simplificamos; ou, talvez, sejam eles que se (nos) compliquem demais...

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"O amor quer a posse, mas não sabe o que é a posse. Se eu não sou meu, como serei teu, ou tu minha? Se não possuo o meu próprio ser, como possuirei um ser alheio? Se sou já diferente daquele de quem sou idêntico, como serei idêntico daquele de quem sou diferente?"
Bernardo Soares [Fernando Pessoa], in O Livro do Desassossego



e, no final, pergunto-me se algum dia irei saber distinguir... 

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