segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

quando a sílaba tónica é a antepenúltima

"Todas as palavras esdrúxulas, como os sentimentos esdrúxulos, são naturalmente ridículas"


ponho-me sempre a pensar que as cartas que tenho para te oferecer não serão suficientes para saciar esse teu vocabulário próprio. que o meu vernáculo não será suficiente. que não sou vocábulo para ti.

o que mais queria, na verdade, era fazer parte do teu livro. vir um dia a ser uma das tuas histórias (uma daquelas boas e perfeitas que tiveram um final feliz) e poder ser contada a quem quisesses. queria ser delineada pela tua caneta e constar do teu dicionário.

mas eu já sei que sou de difícil pronúncia e que a minha grafia tão-pouco ajuda à minha compreensão. tenho uma tónica própria e, acaso fosse uma frase, teria uma sintaxe complexa demais para ser deslindada com apenas a leitura breve que me dás.

se ao menos me escrevesses...




"Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.

Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.

As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.

Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas."

[Álvaro de Campos]

2 comentários:

  1. fragmento de alma volátil, que bom que voltaste.
    bjs.

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  2. Muito engraçado. Adoro quando se pega num tema já desenvolvido por outro poeta e se lhe dá uma corzinha diferente, a nossa pequena pincelada...

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toca-me ao de leve, com gentileza. e, depois, quando me tiveres cativado, poderás então fundir a tua alma à minha.

as palavras são coisas curiosas, há quem diga que dão vida. por isso, escreve. dá-me vida.